quinta-feira, 21 de novembro de 2013

Tigre com presa art déco - Sacavém



Quando em 10 de Setembro de 2012 postámos uma série de esculturas animalistas demos nota também sobre este modelo concebido pelo escultor inglês John R. Skeaping (1901-1980) e dos diversos animais, desenhados em 1926, que propôs à fábrica de Wedgwood, cuja imagem do catálogo aqui apresentamos. A figura de cerâmica era originalmente complementada por soco de madeira, característica, aliás, comum a outras peças do período art déco, casos de jarras, caixas, etc, que assim ganhavam maior destaque ou outra dignidade. Tais bases suplementares tanto podiam ser de desenho contemporâneo, de linhas rectílineas, como é o caso, como ser peanhas chinesas.


Trata-se de um tigre com presa, escultura do bestiário de Skeaping, (intitulada «Tiger and buck») produzida pela Fábrica de Loiça de Sacavém. Peça de faiança moldada, ao gosto art déco, esmaltada a cor marfim amarelado, craquelé. O animal, em movimento sobre um soco paralelepipédico, arrasta com a boca a carcaça de um bode. No fundo da base, carimbo azul, «Gilman & Ctª – Sacavém» sobrepujando «Made in Portugal». Inscrito na pasta 52C.
Data: c. 1930-35
Dimensões: Comp. 34,3 cm x 9,4 cm


quarta-feira, 13 de novembro de 2013

Jarra art déco poligonal - Rambervillers Cythère - França


Jarra de grés tendencialmente esférica, cuja superfície é multifacetada por uma quadrícula de linhas verticais e longitudinais, rematada por bocal estreito saliente em anel. O esmalte azul brilhante apresenta escorrências amareladas e irisadas de aspecto metalizado (que as fotos não mostram). No fundo da base, inscritos na pasta, carimbos Cythère - Rambervillers e, em cartela oval, Unis France.
Data: c. 1930
Dimensões: Alt. 18 cm x Ø 21 cm
No inventário de 1931, posto em catálogo no mesmo ano, mostra-nos que se trata do modelo 649, referenciado na página 3, com uma altura de 215 mm.


Em 1885 Édouard Jacquot funda a Société Anonyme des Produits Céramiques de Jeanménil Rambervillers que entra em laboração dois anos depois. A fábrica produz então canalizações em grés e outros produtos de saneamento e higiene públicos. Em 1891 a empresa, sob outra direcção, passa a denominar-se Société Anonyme des Produits Céramiques de Rambervillers (SAPCR). Os fornos são modernizados e ampliados e, no ano seguinte, Alphonse Cythère (1861-1941) é nomeado director. Este tenta diversificar a produção dentro da mesma linha de especialização da fábrica.


Ao visitar a Exposição Universal de Paris de 1900 vai descobrir os greses artísticos e decorativos produzidos pela concorrência. O reencontro com o seu amigo Joseph Mougin dá-lhe novas ideias e, de regresso a Rambervillers, faz experiências com esmaltes a partir da matéria-prima utilizada na empresa. As tentativas só são coroadas de êxito em 1903 e, nesse mesmo ano, a SAPCR apresenta com grande sucesso as suas peças numa exposição artística em Nancy. A produção vai ser vendida em Paris através da casa Majorelle que também fornece alguns modelos. A partir de 1909 as vendas registam um grande aumento. Os seus modelos são caracterizados durante todo este período pela sinuosa gramática Art Nouveau franco-belga.

Entre 1914-18 a empresa limita-se ao fabrico de tubos de grés para canalização dadas as necessidades sentidas durante o período e a maioria dos operários ter sido mobilizada para a frente de combate. 


Só em 1920 recomeça a produção de greses artísticos devido à falta de pessoal qualificado. Entre 1925-31 Cythère aperfeiçoa o esmalte azul de reflexos metálicos à base de óxido de cobalto, que vai levar a um aumento das vendas. As exportações para os EUA, Japão e outros países são um sucesso, com peças de linhas renovadas onde se destacam as de estilo Art Déco como a jarra ilustrada. Neste período entre 1920 e 1931 a Société de Rambervillers integra a Unis France. Trata-se de uma marca de protecção que significa Union Nationale Inter-Syndicale (UNIS) instaurada em 1916 pelos industriais franceses durante a guerra. Tinha como fim reagrupar os meios de produção franceses e, sobretudo, de protecção face a contrafações incentivando o cliente a comprar francês.

A crise de 1929 tem efeitos devastadores em França a partir de 1932, e a fábrica entra em decadência. A situação agrava-se em 1939 com a mobilização dos quadros da sociedade e de grande parte do pessoal. O bombardeamento das instalações em 1940 precede a morte de Alphonse no ano seguinte, em Junho. A fábrica retoma lentamente a produção a partir de 1946 dirigida pelo filho André. Este demite-se em 1949. A SAPCR acaba por encerrar em 1972. 


quinta-feira, 7 de novembro de 2013

Prato de cozinha art déco - Lufapo – Massarelos


Prato de cozinha, de faiança moldada de formato circular com aba larga e lisa. Decoração central, no covo, policroma, a azul, verde e ocre, estampilhada e aerografada em esfumado, estilizada dentro da gramática art déco, com motivo de galo cantando à alvorada. Bordo aerografado a verde esfumado. No fundo da base, carimbo preto Lufapo – Massarelos - Portugal.
Data: c. 1955
Dimensões: Ø 40 cm


A mesma temática com galo e técnicas de decoração do prato Lunéville apresentado anteriormente, embora neste, de grandes dimensões, as cores nos apareçam em esfumado, mais na tradição alemã, que com cores planas bem definidas como na produção francesa.


Prato tardio dentro da produção art déco nacional, embora utilizando uma estampilha que será, muito provavelmente, dos anos 30, aqui aplicada fora do contexto estético que lhe deu origem.
Integrada na Lufapo em 1952, a Massarelos encerrou em 1980 como já escrevemos.

quarta-feira, 6 de novembro de 2013

Prato art déco “Le Coq D’Or” - Lunéville K et G - França


Começa a ser tradição não termos possibilidade de postar no dia de aniversário do nosso blogue que ontem devíamos ter celebrado. Contingências da vida e do trabalho …

As soluções simples e decorativas concebidas por Géo Condé (1891-1980), a quem está atribuído este prato, integram-se na renovação da produção cerâmica do pós I Guerra Mundial. O estilo Géo Condé marcou a produção cerâmica das fábricas da região de Lunéville. Este foi o artista emblemático francês que privilegiámos na nossa colecção internacional dedicada à cerâmica aerografada, como contraponto à produção germânica que tende a investir em soluções mais vanguardistas como temos vindo a mostrar e escrever. São duas vertentes que nos ajudam a situar a produção portuguesa aerografada no contexto europeu da época. Por isso o elegemos para comemorar o segundo aniversário do blogue. É verdade que podíamos ter escolhido outra peça mais sofisticada deste criador polifacetado, mas um singelo prato de servir à mesa pareceu-nos adequado.


Decorada com base na pintura a aerógrafo aplicada sobre estampilha, esta produção rápida e barata, utilitária e funcional é, simultaneamente, bonita, moderna e, quantas vezes mesmo, refinada. Encontrou consumidores em todas as classes sociais e hoje é alvo de uma legião de admiradores, onde nos incluímos, que se fascinam pela simplicidade aparente da sua execução. Na verdade a técnica é muito simples, depois é só uma questão de mestria na aplicação da cor com o aerógrafo.


Trata-se de um prato art déco, de sopa, de um serviço de mesa, de faiança moldada, com decoração estampilhada e aerografada policroma. O covo é totalmente preenchido por composição estilizada com motivo de galo alaranjado, com apontamento de penas a vermelho-acastanhado, cor também da crista, bico e carúncula. O galináceo está empoleirado num ramo de videira com folhas, gaivinhas e cacho-de-uvas, a azul com apontamentos a castanho nas primeiras. A aba é decorada por duas faixas, com lista central ondeada alaranjada (só aparentemente contínua) envolvida por segmentos curvos a azul - uma junto ao início do covo, outra mais perto do bordo. No fundo da base, carimbo verde K & G - Lunéville France sobrepujado por cartela curva com «Le coq d'or». Inscrito na pasta 6 (?).
Data: c. 1925 - 30
Dimensões: Ø 24 cm


Prato idêntico figurou na exposição – Julho e Agosto de 2011 - dedicada a a Géo Condé, organizada por Bertrand Schuhmacher, em Magnières, com peças provenientes de coleccionadores, por ocasião do centésimo vigésimo aniversário do nascimento do artista.

domingo, 3 de novembro de 2013

Taça anos 50 - Aleluia - Aveiro


Peça de faiança moldada, em forma de calote abatida assente sobre pé muito curto recuado. A decoração, abstracta e orgânica, é policroma e estampilhada à mão sobre fundo branco. No interior ressalta uma estrela de cinco pontas, (seguramente uma estrela-do-mar estilizada) concebida pela sobreposição de duas estrelas, uma pequena, a preto, sobre outra maior, a branco, com as extremidades pontilhadas a amarelo-torrado, que marca o centro do covo. A estrela repousa sobre uma mancha informe verde (talvez uma alga) que sobressai do branco em reserva, por sua vez rodeado de preto que alastra até ao bordo. No exterior, sobre a cor branca, partindo do pé, uma mancha preta de recorte ondeante muito pronunciado, como algas flutuando em direcção ao bordo. No fundo da base, carimbo preto «Aleluia Aveiro» com «. .» pintados à mão, a preto, sobrepujando carimbo da mesma cor «Made in Portugal»«Hand Painted», e, à mão, a preto, 544 - A.
Data: c. 1955 - 65
Dimensões: Ø 17 cm x alt. 5,5 cm


Mais uma vez o mar, ou que nele habita, como fonte de inspiração para a decoração da cerâmica produzida pela Aleluia-Aveiro. Embora não estejamos perante uma peça que integre as chamadas freeforms, a plasticidade orgânica da pintura para elas remete. As contrastantes cores planas oferecem-nos uma composição que pende para o abstracionismo - mas onde se reconhecem animais (a estrela-do-mar) e plantas (as algas) - e alteram totalmente a leitura de uma forma convencional e estática.


CMP publicou, em 10 de Novembro de 2011, duas formas (526-A e 531-A), que ilustramos. Embora mais livres e orgânicas, pela paleta cromática e sequência alfa-numérica essas peças poderão integrar a mesma série da presente taça. Até porque a forma 526-A é baseada num búzio.